Extraordinário | São Tomé nas Américas: A Lenda que Antecede a Fé
Muito antes da chegada de portugueses e espanhóis à América, uma figura misteriosa já teria passado por estas terras, deixando ensinamentos, marcas e cruzes entre os povos indígenas. Conhecido como Pai Sumé, esse personagem é descrito como um homem sábio, de pele clara e barba branca, que ensinava sobre agricultura, moralidade e um Deus único. Para os missionários católicos que chegaram no século XVI, não havia dúvidas: tratava-se do Apóstolo São Tomé.Tradições e registros sobre São Tomé nas Américas
Diversas tradições orais e registros históricos apontam para a figura de São Tomé como um visitante enigmático que teria ensinado e evangelizado povos indígenas:
Brasil
• Os indígenas brasileiros chamavam essa figura de Sumé, Pai Sumé ou Zumé, descrito como um homem sábio, de pele clara e barba branca, que ensinava práticas agrícolas e falava sobre um Deus único.
• Há relatos de pegadas atribuídas a São Tomé gravadas em pedras em várias regiões do Brasil, como no litoral nordestino e no interior.
• Os portugueses, ao chegarem, ouviram dos indígenas histórias sobre esse “deus pequeno” que os ensinava a viver de forma justa e a adorar um Deus maior.
Bolívia
• Em regiões andinas, há relatos de um homem sábio que veio do mar e ensinou sobre espiritualidade e moralidade, com paralelos à figura de São Tomé.
• Algumas tradições aimarás e quéchuas mencionam um “visitante branco e de barba branca” que deixou ensinamentos semelhantes aos cristãos.
Paraguai
• Entre os Guarani, a lenda de Pai Sumé também é forte. Ele teria caminhado sobre as águas, ensinado a cultivar milho e mandioca, e falado sobre a vinda de homens que trariam a cruz.
• Locais como Tacumbú, Caacupé e Yaguarón guardam marcas que os indígenas atribuem a São Tomé.
• O sistema de estradas indígenas chamado Peabiru foi associado à lenda de São Tomé pelos jesuítas e exploradores espanhóis.
Peru
• Entre os povos da Amazônia peruana, há mitos sobre um homem que veio do leste, falava de um Deus superior e deixou marcas em pedras.
• Embora menos documentado, estudiosos apontam semelhanças com a lenda de Pai Sumé.
América Central e México
• Algumas tradições maias e astecas mencionam figuras espirituais que vieram do mar, ensinaram sobre um Deus criador e desapareceram misteriosamente.
• Embora não sejam identificadas diretamente como São Tomé, há paralelos simbólicos com a missão apostólica.
O Caminho de Peabiru e a Tradição de São Tomé
Segundo a tradição oral preservada entre diversos povos indígenas, o Caminho de Peabiru teria sido aberto por Pai Sumé, o misterioso visitante que ensinava sobre um Deus único e deixava cruzes como sinal de sua passagem.
Essa extensa rede de trilhas ancestrais conectava o Oceano Atlântico ao Pacífico, atravessando o Brasil, o Paraguai e a Bolívia até alcançar o atual território peruano. No Brasil, a rota começava no litoral paulista, com ramificações em cidades como São Vicente e Cananéia, cruzando o estado do Paraná de leste a oeste até as proximidades das Cataratas do Iguaçu. Outras ramificações partiam do litoral dos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Sua extensão estimada varia entre 3.000 e 4.000 km, dependendo dos ramais considerados.
A presença de Pai Sumé entre os indígenas
A tradição oral dos povos tupis e guaranis relata que Pai Sumé apareceu entre eles vindo do mar. Caminhava sobre as águas, curava feridas, ensinava a transformar mandioca em farinha e a viver com justiça. Proibiu práticas como a poligamia e o canibalismo, o que teria gerado resistência entre alguns caciques.
Após cumprir sua missão, teria desaparecido sobre as ondas, deixando rastros gravados em pedras — marcas que ainda hoje são atribuídas a ele em diversas regiões do Brasil e do Paraguai.
Os relatos dos Jesuítas
Padre Manoel da Nóbrega, um dos primeiros jesuítas a chegar ao Brasil em 1549, registrou em suas cartas o espanto ao ouvir dos indígenas que um homem chamado Zumé já havia estado entre eles. Os indígenas mostravam cruzes esculpidas e diziam que haviam sido deixadas por esse visitante sagrado.
Os missionários, ao verem a semelhança entre os ensinamentos de Pai Sumé ou Zumé e a doutrina cristã, passaram a acreditar que São Tomé teria evangelizado os povos nativos séculos antes da colonização.
A interpretação teológica e histórica
A crença de que São Tomé teria vindo às Américas não é oficial na doutrina da Igreja, mas é respeitada como uma piedosa lenda que reforça a ideia de que Deus prepara os corações antes da chegada da fé. Para muitos católicos, a história de Pai Sumé é um sinal da ação divina entre os povos indígenas, antecipando a missão evangelizadora dos jesuítas e a propagação do Evangelho no Novo Mundo.
Reflexão: Quando a Fé Antecede a História
É impossível não se maravilhar diante da narrativa dos povos indígenas sobre Pai Sumé. Em tempos em que não havia contato com europeus, os indígenas já falavam de um homem branco, de barba, que caminhava entre eles ensinando sobre um Deus único e deixando cruzes como sinal de sua passagem. Esse detalhe, por si só, já é extraordinário.
A descrição de Pai Sumé como um homem alto, de pele clara e barba branca foi tão marcante para os indígenas que, quando os jesuítas chegaram com aparência semelhante, o contato foi facilitado pela associação com esse ser mítico.
Como poderiam descrever alguém com traços tão distintos, sem jamais terem visto alguém assim? Como poderiam compreender a ideia de um Deus único, quando suas crenças eram profundamente ligadas à natureza e aos espíritos ancestrais? E mais ainda: como poderiam reconhecer a cruz como símbolo sagrado, séculos antes da chegada dos missionários?
Essas perguntas não encontram respostas fáceis na lógica histórica. Mas na fé, elas ganham sentido. A tradição cristã nos ensina que Deus prepara os corações antes da chegada da Palavra. E talvez Pai Sumé tenha sido esse sinal antecipado da Providência divina, uma presença que abriu caminhos para que o Evangelho fosse acolhido com reverência e familiaridade.
Os jesuítas, ao ouvirem essas histórias, não duvidaram: viram nelas a ação de Deus. Viram que a fé não começa com a colonização, mas com o mistério. E que, mesmo nas terras mais distantes, o Espírito Santo já soprava, tocando almas e plantando sementes de verdade.
Hoje, ao revisitarmos essa lenda, não buscamos apenas fatos. Buscamos sentido. Buscamos reconhecer que Deus age além dos limites da história escrita, e que a fé pode nascer onde menos se espera — como uma luz que antecede o amanhecer.
O impacto da aparência de Pai Sumé
• Figura fora do padrão indígena: Os povos originários não tinham barba nem pele clara, então a imagem de Pai Sumé destoava completamente do que conheciam.
• Memória coletiva poderosa: A descrição foi preservada oralmente por gerações, em lugares longínquos, o que mostra o impacto que ele teve.
• Facilitador da evangelização: Quando os jesuítas chegaram, muitos indígenas os viram como os “homens da cruz” que Pai Sumé havia anunciado.
• Pontes culturais e espirituais: Essa associação permitiu que os missionários fossem recebidos com menos resistência, pois pareciam cumprir uma profecia ancestral.
Conclusão
A lenda de Pai Sumé é mais do que uma curiosidade histórica. Ela representa a ponte entre a fé ancestral dos povos indígenas e a revelação cristã trazida pelos missionários. Seja como fato ou como símbolo, a figura de São Tomé nas Américas continua a inspirar fiéis, historiadores e estudiosos, revelando que a Providência divina pode se manifestar de formas surpreendentes e misteriosas.
| PALAVRAS CHAVES
São Tomé, Pai Sumé, Zumé, lenda indígena, evangelização pré-colonial, cruzes indígenas, Jesuítas no Brasil, mitologia cristã, história católica, Peabiru, apóstolo nas Américas.
| DESCRIÇÃO
Extraordinário | São Tomé nas Américas: A Lenda que Antecede a Fé
Antes dos europeus, São Tomé teria evangelizado indígenas nas Américas. Conheça os registros e a tradição que fascinam até hoje.
Por:
Oremos Sempre
Arte:
Alex M.
| VEJA TAMBÉM
História | São Tomé
Oração | São Tomé para fortalecer a fé

